Paula Portella Dentista odontopediatra e ortopedista funcional maxilar

Janeiro Branco: Saúde mental também passa pela boca

Falar de saúde mental e bem-estar emocional nunca foi tão importante. Parece que os últimos anos colocaram à prova todo o nosso autocontrole e resiliência. Por isso, decidi dar mais espaço à Campanha Janeiro Branco, que tem como objetivo chamar atenção para essas importantes questões. Mais do que isso, quero aproveitar para esclarecer que problemas como depressão e ansiedade podem sim prejudicar as estruturas bucais e até comprometer funções básicas, como a mastigação.

Por que branco?

Para começar, quero apresentar o Janeiro Branco. A campanha começou em 2014 quando psicólogos de Uberlândia foram às ruas para falar sobre saúde mental com o objetivo de promover uma psicoeducação e quebrar tabus sobre o tema. O mês foi escolhido justamente por ser um período em que as pessoas costumam refletir sobre a vida e fazer os planos para o ano que acabou de iniciar, ou seja, ainda é uma folha em branco. Interessante, não?

Saúde mental e problemas bucais

Cuidar da saúde mental sempre foi importante para o bem-estar, porém, hoje, é ainda mais relevante. De acordo com uma pesquisa realizada pelo Instituto FSB, 62% das brasileiras e 43% dos brasileiros afirmaram que a saúde emocional ‘piorou’ ou ‘piorou muito’ durante a pandemia. Já o estudo desenvolvido pela FIOCRUZ apontou que 40% da população brasileira apresenta sentimentos frequentes de tristeza e de depressão e 50% costumar ter quadros de ansiedade e de nervosismo.
O que nem todo mundo sabe é que esses transtornos também podem se transformar em problemas físicos e patológicos, como bruxismo, comprometendo a saúde da estrutura bucal e até a qualidade da mastigação.

Bruxismo e saúde mental

Um dos principais problemas dentários relacionados ao emocional é ato de ranger de dentes. Também conhecido como bruxismo, o hábito, normalmente noturno e inconsciente, é capaz de desgastar a dentição, interferir na estrutura da mandíbula e até aumentar a pressão craniana. Dependendo do quadro, também podem surgir outros sintomas como dor de cabeça, zumbido no ouvido e dores nos músculos faciais. Com o tempo, o desgaste da dentição começa a trazer novos problemas, como retração gengival e sensibilidade, dificultando a ingestão de alimentos quentes demais ou muito gelados.

Quando diagnosticado, uma das medidas mais comuns é utilizar uma placa protetora de silicone nos dentes para dormir, evitando o contato dentário. Porém, é preciso compreender que a placa evita apenas a evolução do quadro e não trata a origem do problema. O ideal é procurar compreender o que está levando a essa tensão maxilar e, muitas vezes, são questões emocionais que precisam ser resolvidas.

Mesmo após o bruxismo ser tratado, dependendo da demora no tratamento, a oclusão pode ficar desequilibrada, prejudicando a qualidade da mastigação, alinhamento dos dentes e até dores faciais. Nesses casos, é preciso fazer um trabalho de Reabilitação Neuro-Oclusal com o objetivo de otimizar a mordida e sanar qualquer herança dos problemas passados.

Viu como é importante ficar atento à saúde mental? Se você percebeu que está acordando com um desconforto na mandíbula ou uma dor de cabeça estranha, não deixe de fazer uma avaliação. Estresse e ansiedade podem comprometer – e muito – nossa qualidade de vida.